Japão

Religiões no Japão

Esta viagem pretende ser uma introdução ao fenómeno religioso no Japão, numa abordagem simultaneamente histórica e contemporânea. Tendo como enfoque a realidade religiosa como um todo, centra-se, de forma especial, nas tradições do xintoísmo, do budismo e das ‘novas religiões’ emergentes durante os séculos XIX e XX, e ainda em fenómenos de ‘religião popular’ não enquadrados especificamente em nenhuma destas tradições.

O percurso segue uma orientação cronológica — embora meramente tendencial, em função, por um lado, de aspectos práticos do roteiro e, por outro, da confluência de elementos de diferentes épocas históricas nos espaços da visita. É assim que o itinerário, estando pensado em larga medida em termos de evolução histórica, começa com uma inquirição sobre alguns elementos do Período Kofun (cerca de 250-538) do Japão Antigo, através de uma visita ao Museu da Cidade de Sakai e à zona dos túmulos de Mozu. É também um critério temporal que preside a alguns dos seguintes encadeamentos do trajecto, concebidos para facilitar uma visualização sequencial da narrativa histórica. O roteiro concentra, no seu início, um conjunto de incursões a santuários xintoístas, incluindo o Tenmangū em Osaca, o Ise Jingū e o Futama Okitama Jinja em Ise, e o Kasuga Taisha em Nara, em conformidade com uma procura de definição, logo na primeira fase da viagem, dos contornos da religião xintoísta, tradição de origem remota que precede a chegada do budismo. É no encalço a esta aproximação ao xintoísmo que o itinerário prossegue pelas cidades de Nara, capital do Japão durante o século VIII, e Quioto, sua sucessora a partir de 794, ambas importantes polos de recepção, construção e difusão do budismo, com visitas a uma variedade de templos budistas, entre outros destinos. É, por sua vez, apresentada, neste ponto da viagem, uma outra vertente do panorama religioso japonês, a das ‘novas religiões’, cujo surgimento remonta a uma fase tardia do Período Tokugawa (1603-1868), através de uma ida, perto de Nara, ao templo principal da religião Tenrikyō, estabelecida em 1838. A questão das ‘novas religiões’ é subsequentemente abordada ainda em duas deslocações, em Okayama, a centros da religião Kurozumikyō e da religião Konkōkyō, fundadas em 1814 e 1855, respectivamente. O percurso termina, em consonância com um propósito de seguimento de uma linha do tempo, nas cidades de Tóquio — anterior Edo, cujo desenvolvimento vem a ser impulsionado com a constituição do xogunato Tokugawa em 1603 e o seu consequente estabelecimento como centro efectivo do poder político, e que se torna capital do Japão em 1868 — e Nikkō — local de construção do Tōshōgū, santuário xintoísta dedicado a Tokugawa Ieyasu, fundador do xogunato Tokugawa, e completado em 1617.

Estando organizada em função da evolução histórica da realidade religiosa no Japão, a viagem está, ao mesmo tempo, concebida como um olhar para a sua diversidade. Inclui digressões a santuários xintoístas dedicados a kami de diferentes tipos — míticos, como Amaterasu, associados a personagens históricas, como Tenjin e o Imperador Meiji, e outros, de carácter mais ou menos popular, como Inari ou Denden Myōjin. Integra incursões a templos budistas associados a várias escolas de budismo — designadamente a Hossō, a Kegon, a Tendai, a Shingon, a Zen e a Jōdō, constituídas nos Períodos Nara (710-794), Heian (794-1185) e Kamakura (1185-1333) —, sendo que alguns deles, o Shitennōji em Osaca e o Kiyomizudera em Quioto, se encontram hoje afiliados a seitas dissidentes recentemente formadas. Debruça-se, nos diferentes pontos de interesse turístico seleccionados, sobre aspectos de religião popular, nomeadamente sobre a devoção a entidades não incorporadas especificamente em nenhuma das tradições religiosas instituídas, tais como os Sete Deuses da Felicidade, Shōmen Kongō, os Três Macacos Sábios, e yōkai como Karasu Tengu e Kappa. Contempla o fenómeno religioso numa das suas manifestações que é a ligação à morte, sendo que o percurso incorpora a participação em Nara na celebração budista do Obon, festividade de veneração dos antepassados falecidos, assim como uma visita pelo cemitério do Okunoin, zona sagrada no Monte Kōya. O circuito inclui ainda outras atracções e actividades que, de formas mais ou menos directas, evocam o domínio do sagrado. Entre elas mencionam-se o Jardim Botânico Man’yō em Nara, o Bosque de Bambu de Arashiyama em Quioto e um dos Três Grandes Jardins do Japão, o Kōrakuen, em Okayama, e ainda o Museu em Uji dedicado ao Genji monogatari, obra literária do séc. XI da autoria de Murasaki Shikibu, na qual transparecem variados traços e temas religiosos. Duas outras, o Museu do Saqué Gekkeikan Ōkura em Quioto e a realização de uma cerimónia do chá em Uji, remetem, respectivamente, para o saqué e para o chá, bebidas que se desenvolveram no Japão em estreita ligação com o fenómeno religioso. Destaca-se ainda o Museu Ghibli em Mitaka, Tóquio, relativo ao Estúdio Ghibli e à sua produção de animação, na qual surgem importantes componentes do sobrenatural.

A eventuais interessados sugere-se, como preparação prévia do tema da viagem, a frequência de um curso de “Introdução às Religiões no Japão”, a realizar-se na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, em formato online, num conjunto de seis sessões de duas horas, a decorrer às terças-, quartas- e quintas-feiras, nos dias 17, 18, 19, 24, 25 e 26 de Junho, das 21h00 às 23h00. Este curso integrará uma sessão introdutória geral e sessões específicas incidentes sobre o xintoísmo, o budismo, o cristianismo e as ‘novas religiões’. Pretenderá, por um lado, a transmissão de conhecimentos essenciais sobre o fenómeno religioso no Japão e, por outro lado, a criação de condições para o desenvolvimento de leituras críticas e multifacetadas sobre o mesmo, para o que se chamará nomeadamente a atenção para convergências e divergências entre doutrinas, crenças e práticas religiosas.

Fotos: Portal oficial de turismo japan.travel